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16 janeiro 2013

Induzir para deduzir - e limitações das deduções


O trecho abaixo expõe uma avaliação preliminar da Química, comparando-a à Física em termos de avanços metodológicos. O resultado parece desabonador para a Química, pois não há grandes avanços (isto é, novidades), mas, mutatis mutandis, apenas desenvolvimentos e aperfeiçoamentos do que se fez na Física.
Entretanto, a passagem da Física à Química indica o verdadeiro caráter da dedução e da indução: somente se induz para melhor deduzir. Entretanto, deve-se fazer duas observações importantes: por um lado, o excesso de deduções obscurece as origens indutivas da ciência; por outro lado, a dedução na Química já está separada da que ocorria inicialmente na Matemática, ou seja, já se percebem (ou deve-se perceber) as limitações de tais deduções.

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“L’importance réelle de cette étude, inversement à la précédente, est moins logique que scientifique. Car la méthode positive n’y fait aucun nouveau pas général, et se borne à y développer davantage les différents procédés inductifs constitués par la physique. Seulement, la complication supérieure des spéculations chimiques y fait mieux ressortir la nature et la destination de l’induction, en laissant une moindre influence à la déduction, alors dégagée irrévocablement de ses formes mathématiques initiales. Dans ce passage de la physique à la chimie, l’esprit sent avec plus d’évidence que la logique pleinement positive doit être moins déductive qu’inductive. Car on n’induit jamais que pour déduire ; tandis que la déduction prolongée fait souvent méconnaître l’induction d’où elle émane toujours” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 532).

Exagerada importância filosófica da Física


O trecho abaixo é bastante interessante, pois Augusto Comte afirma que a Física não tem a importância filosófica que se atribui – ou atribuía – a ela. Citações anteriores e subseqüentes, aliás, indicam que para Comte outras ciências são filosoficamente mais estimulantes e importantes, a exemplo da Astronomia e da Química.
Qual a origem da exagerada aptidão filosófica da Física? Para Comte, ela reside em uma coincidência temporal: a Física começou a desenvolver-se ao mesmo tempo em que se desenvolviam as perspectivas de conjunto, levando-se a considerar-se a íntima relação entre ambas.

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“Son importance dogmatique ne saurait pourtant rester exactement au niveau de son office historique. Car, elle a influé sur l’ensemble de la préparation moderne au delà de sa vraie portée encyclopédique. J’ai déjà expliqué la marche nécessaire qui plaça son essor distinct après celui de toutes les autres sciences préliminaires. Dès lors, il dut coïncider avec la première ébauche des vraies vues encyclopédiques, qui, auparavant impossibles, fautes de bases suffisantes, purent ainsi surgir à travers la culture dispersive. Cette coïncidence mal appréciée fit nécessairement attribuer à la physique plus d’aptitude philosophique que n’en comporte une telle science. L’état normal de la philosophie naturelle ne saurait conserver aucune trace de ce grand incident historique, dû seulement à une situation exceptionnelle” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 531-532).

Busca das causas e persistência do absoluto na Física


É interessante notar que a prática científica não está isenta de absoluto e, portanto, de teologia e/ou de metafísica. Para Augusto Comte, isso é péssimo, pois deturpa o espírito positivo e dificulta não apenas a compreensão da ciência como, de modo mais importante, dificulta a compreensão da realidade. Evidentemente, tal situação é perfeitamente passível de correção, por meio da adoção do relativismo e da perspectiva humana e histórica (logo, subjetiva).
Em outros trechos Comte indicou a permanência dos hábitos mentais absolutistas na Matemática; na citação abaixo ele refere-se à Física.

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“De vaines protestations habituelles, mal empruntées à Bacon, semblent y indiquer une sérieuse renonciation à la recherche des causes, pour vouer la science à la seule découverte des lois. Mais ce langage, même sincère, n’y sert, le plus souvent, qu’à dissimuler une irrationnelle tendance aux notions absolues. L’anarchie ne saurait jamais suffire ni durer, en science guère plus qu’ailleurs. Quels que soient ses désirs d’émancipation totale, l’esprit moderne reviendra, sous de nouvelles formes, au régime métaphysique, tant qu’il n’aura point accepté la nouvelle discipline philosophique qui surgit aujourd’hui de toute l’évolution positive” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 521).

Limitação da ciência como espelho do mundo


A respeito da teoria corpuscular, deve-se notar que as teorias têm um caráter lógico (da mesma forma que a noção de inércia, na Mecânica); atribuir muita realidade a tais noções é exagerar a capacidade de representação das teorias, o que as desnatura.
Esse trecho, nesse sentido, tem um certo caráter histórico, isto é, de história das idéias científicas e físicas. Isso é interessante, mas estritamente limitado. Mais útil é observar que, para Comte, as idéias e as hipóteses não refletem perfeitamente a realidade externa, nem o poder fazer. Em outras palavras, Comte reconhece com todas as letras as limitações da imagem da ciência como um espelho do mundo exterior.

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“C’est aussi à cette science qu’appartient surtout la théorie corpusculaire ou atomistique, que achève de fonder sa propre constitution logique, où elle convient autant que l’inertie en mécanique. Notre tendance à douer d’une existence objective nos constructions subjectives dénature encore l’une et l’autre conception, en y supposant une exacte représentation de la réalité extérieure. Quoique la saine philosophie dissipe cette illusion primitive, elle conserve, en les rectifiant, de précieuses institutions logiques, qui en sont, au fond, indépendantes.
L’intime structure des substances réelles nous demeure nécessarairement inconnue. Mais, en étudiant leurs propriétés, nous sommes rationnellement autorisés à introduire envers elle toutes les hypothèses qui pourront faciliter nos pensées, pourvu que ces artifices soient toujours conformes à la nature des phénomènes correspondants. [...] Mais une telle appréciation philosophique, en expliquant la légitimité relative de l’hypothèse atomistique, interdit aussi son extension absolue, et indique même les limites de son usage normal” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 520).

Física e fundação do método experimental


O trecho abaixo afirma a “moderação” do grau de complicação da Física, quando comparada com a Astronomia (antes) e com a Química (depois).
Mais do que isso: afirma-se a característica metodológica da Física, consistindo na experimentação. Tal método, Comte sublinha, não deve ser aplicado em outras ciências se não for bem entendido como é aplicado na Física – o que, inversamente, significa que as demais ciências podem aplicar a experimentação mas com graus diferentes (inferiores) de sucesso.
Do ponto de vista lógico, a experimentação é possível devido à semelhança entre os fenômenos estudados; tal semelhança ocorre quase exclusivamente no mundo inorgânico. Ora, essa afirmação implica, inversamente, que nas Ciências Humanas a experimentação não apresenta grandes resultados, não lhe sendo o método mais adequado (sem ignorar as considerações éticas envolvidas nas experimentações sociológicas e morais). Em outras palavras, Comte já prenuncia neste trecho que as Ciências Humanas têm seus próprios métodos, que não são cópias, adaptações, emulações ou o que seja dos métodos das Ciências Naturais.

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“Outre cette efficacité générale, une tendance plus spéciale, qui s’y trouve directement liée, manifeste davantage la haute participation de la physique à la fondation de la logique positive. Le même degré modéré de complication objective qui place là le berceau naturel de l’esprit inductif, y fait aussi surgir la méthode expérimentale, qui forma son principal caractère jusqu’à l’essor de la philosophie biologique. Envers les phénomènes immodifiables, ce procédé est évidemment impossible, et leur extrême simplicité l’y rend d’ailleurs superflu : son équivalent mental n’y sert jamais qu’à vérifier sans découvrir. D’un autre côté, si les phénomènes se compliquent trop, leurs modifications, naturelles ou artificielles, deviennent tellement variées que l’on peut rarement y instituer une expérimentation vraiment décisive. Car, elle exige toujours la comparaison de deux cas qui n’offrent aucune autre différence, directe ou indirecte, que celle relative à l’influence ainsi étudiée. Or, cette suffisante conformité est presque toujours impossible hors de l’existence inorganique, et déjà même elle se réalise difficilement dans le cas chimiques. L’essor normal de l’expérimentation convient donc à la physique seule, dont il constitue la principale ressource. On ne doit l’appliquer ailleurs qu’après l’avoir assez étudiée dans cette origine naturelle. Ainsi, en développant beaucoup l’observation spontanée, première base de l’esprit inductif, la physique y joint déjà un puissant artifice général, qui le perfectionne essentiellement” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 519-520).

Física e combinação harmoniosa entre indução e dedução


O trecho abaixo apresenta pelo menos três observações de grande importância teórica.
O primeiro é a afirmação de que a Física apresenta um grau por assim dizer “mediano” – adiante Comte usará a palavra “moderado” – de dificuldade, o que lhe permite o desenvolvimento da indução.
Em segundo lugar, a crítica ao materialismo matemático (no caso, algébrico) sofrido pela Física e a afirmação subjacente de que a Física é uma ciência conceitual (como todas as demais, aliás e bem entendido), em que a Matemática é um meramente instrumento para conferir precisão aos raciocínios.
Em terceiro lugar, a observação – em parte descritiva, em parte normativa – de que, quando a “educação enciclopédica” – ou seja, pautada pelas vistas de conjunto, humanas, relativas, históricas – reorganizar o conhecimento, a Física pode combinar harmoniosamente a indução e a dedução.

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“Malgré les graves altérations dues à l’anarchie scientifique, la physique tend, par sa nature, à la manifestation décisive de ces diverses notions logiques, trop dissimulées, en astronomie, sous l’extrême simplicité des phénomènes. Cette tendance est déjà sensible chez les judicieux physiciens du dix-septième siècle, surtout envers les études de la pesanteur et du son, avant que l’invasion algébrique les eût viciées. Quoiqu’une aveugle impulsion mathématique y ait ensuit trop disposé à transformer les inductions en déductions, l’essor ultérieur d’une telle science n’a jamais cessé d’offrir de précieux modèles de la vraie logique inductive. C’est ainsi que se sont accomplis réellement tous les grands progrès de la physique, d’après les travaux des esprits les moins affectés par les diverses aberrations. Quand l’éducation encyclopédique aura systématisé sa culture, cette science développera pleinement son aptitude naturelle à constituer le premier type décisif de la saine harmonie entre l’induction et la déduction, suivant une sage prépondérance de son génie propre sur celui des sciences précédentes” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 518-519).