26 março 2025

Proteção patrícia ao sacerdócio, parte 2

No dia 28 de Aristóteles de 171 (25.3.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos Conservadores (em sua Primeira Parte, dedicada à doutrina própria aos verdadeiros conservadores).

Na parte do sermão continuamos e concluímos a leitura comentada da "Carta filosófica sobre a proteção patrícia ao sacerdócio".


As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

*   *   *


A proteção patrícia ao sacerdócio

(28 de Aristóteles de 171/25.3.2025) 

1.       Abertura

2.       Exortações iniciais

2.1.    Sejamos altruístas!

2.2.    Façamos orações!

2.3.    Como somos uma igreja, ministramos os sacramentos: quem tiver interesse, entre em contato conosco!

2.4.    Precisamos de sua ajuda; há várias maneiras para isso:

2.4.1. Divulgação, arte, edição de vídeos e livros! Entre em contato conosco!

2.4.2. Façam o Pix da Positividade! (Chave pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

3.       Datas e celebrações:

3.1.    Nesta semana não registramos nenhuma data especial ou celebração

4.       Leitura comentada do Apelo aos conservadores

4.1.    Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

4.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

4.1.1.1.             O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

4.1.1.2.             Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

4.1.2. A religião estabelece parâmetros morais, intelectuais e práticos para a existência humana e, portanto, orienta a política, estabelece as suas metas, as suas possibilidades e os seus limites

4.2.    Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

4.3.    Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

5.       Sermão: a proteção patrícia ao sacerdócio

5.1.    Em uma carta a John Stuart Mill, do final de 1845, Augusto Comte faz um balanço semiprivado das relações políticas, sociais, filosóficas e morais entre o patriciado e o sacerdócio

5.1.1. Dizemos “balanço semiprivado” porque era uma carta pessoal de nosso mestre a Stuart Mill, que ele (nosso mestre) autorizou a divulgar conforme o destinatário julgasse adequado, sem a tornar totalmente pública

5.2.    A tradução que leremos é de Raimundo Teixeira Mendes, presente em O ano sem par, entre as páginas 567 e 579

5.2.1. Um primeiro volume da correspondência de Augusto Comte a John Stuart Mill foi publicado em 1877, sob o título Lettres d’Auguste Comte à John Stuart Mill – 1841-1846. Com 462 páginas, esse volume contém 45 cartas e quatro anexos. A carta abaixo corresponde à de n. XL desse volume, publicada entre as páginas 374 e 392; foi a partir dessa edição que Teixeira Mendes traduziu o texto abaixo. Já na coletânea da correspondência completa de Augusto Comte, organizada por Paulo Berredo Carneiro e Pierre Arnaud, a carta abaixo está no volume III, dedicado ao período entre abril de 1845 e abril de 1846 (o “ano sem par”), entre as páginas 238 e 248; no conjunto do epistolário comtiano, ela corresponde à missiva CCCLXVI.

5.3.    O que importa nessa carta?

5.3.1. Essa missiva apresenta, como é característico do Positivismo, inúmeros temas e aspectos estreitamente vinculados entre si, ainda que alguns sejam apenas citados enquanto outros sejam longamente desenvolvidos

5.3.2. O tema principal é a apreciação de nosso mestre a respeito do apoio, falho, do patriciado em favor do sacerdócio positivo

5.3.2.1.             O patriciado, como notamos há pouco, são os líderes políticos e industriais, ou seja, são os responsáveis pela gestão do poder e da riqueza

5.3.2.2.             A crítica principal de Augusto Comte é em relação ao patriciado inglês, que habitualmente era mais liberal e mais pródigo em protetorados desse tipo

5.3.2.3.             Mas, de qualquer maneira, a idéia principal aí é que o patriciado tem o dever – moral, pelo menos – de sustentar, de apoiar, o sacerdócio

5.4.    A situação específica que motivou toda essa reflexão foram as sucessivas manobras acadêmicas, políticas e administrativas feitas na Escola Politécnica, entre 1840 e 1852, para impedir que Augusto Comte assumisse o cargo de professor efetivo de lá e, depois, para demiti-lo de suas funções subalternas (repetidor e examinador de admissão)

5.4.1. Essas manobras mantiveram Augusto Comte com salários baixíssimos e, cada vez mais, à sombra da miséria e da fome

5.5.    Passemos, então, à leitura da carta!

6.       Exortações finais

6.1.    Sejamos altruístas!

6.2.    Façamos orações!

6.3.    Como somos uma igreja, ministramos os sacramentos: quem tiver interesse, entre em contato conosco!

6.4.    Precisamos de sua ajuda; há várias maneiras para isso:

6.4.1. Divulgação, arte, edição de vídeos e livros! Entre em contato conosco!

6.4.2. Façam o Pix da Positividade! (Chave pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

7.       Término da prédica

24 março 2025

Augusto Comte: belo, verdadeiro, bom

“[...] A religião positiva abraça ao mesmo tempo as nossas três grandes construções contínuas, a poesia, a filosofia e a política. A moral, porém, aí domina sempre, quer o surto de nossos sentimentos, quer o desenvolvimento de nossos conhecimentos, quer o curso de nossas ações, de modo a dirigir sem cessar nossa tríplice pesquisa do belo, do verdadeiro e do bom”

(Augusto Comte, Catecismo positivista, 2ª ed. Rio de Janeiro, Igreja Positivista, do Brasil, 1895, p. 67).




Augusto Comte: ordem e progresso, síntese e análise, altruísmo e egoísmo

“Subordinar o progresso à ordem, a análise à síntese e o egoísmo ao altruísmo; tais são os três enunciados, prático, teórico e moral, do problema humano, cuja solução deve constituir uma unidade completa e estável. Respectivamente próprios aos três elementos da nossa natureza, esses três modos distintos de formular uma mesma questão são não somente conexos mas equivalentes, vista a dependência mútua entre a atividade, a inteligência e o sentimento. Malgrado sua coincidência necessária, o último enunciado ultrapassa os dois outros, como sendo o único relativo à fonte direta da comum solução. Afinal, a ordem supõe o amor e a síntese não pode resultar senão da simpatia: a unidade teórica e a unidade prática são então impossíveis sem a unidade moral; assim, a religião é tão superior à filosofia quanto à política. O problema humano pode finalmente se reduzir a constituir a harmonia afetiva, ao desenvolver o altruísmo e comprimir o egoísmo: desde então o aperfeiçoamento subordina-se à conservação e o espírito de detalhe, ao gênio de conjunto”.

(Augusto Comte, Synthèse subjective, 2e ed. Paris, Execution Testamentaire d'Augusto Comte, 1900, p. 1-2)



21 março 2025

Augusto Comte: relativismo, organicidade, simpatia

“[...] É tão impossível ficarmos relativos sem nos tornarmos simpáticos como [é impossível] ficarmos orgânicos sem nos tornarmos relativos, sobretudo a respeito do campo principal de nossas concepções [o ser humano], em que só o amor nos dispõe a construir e nos permite apreciar” .

(Augusto Comte, Apelo aos conservadores, Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1899, p. 27).



19 março 2025

500 mil visitas!

No dia 21 de Aristóteles de 171 (18.3.2025) o nosso blogue Filosofia Social e Positivismo atingiu a marca de 500.000 visitas!

Essa é uma data a ser comemorada, pois somos um blogue pequeno e dedicado a questões políticas, sociais e filosóficas.

Ele foi criado em 4 de janeiro de 2007 - já se vão aí 18 anos - e desde então as marcas de 100.000 visitas foram atingidas nas seguintes datas:

  • 100.000 visitas: 8 de Dante de 161 (23.7.2015) (8,5 anos desde o início)
  • 200.000 visitas: 27 de Aristóteles de 163 (24.3.2017) (1,66 ano desde a marca anterior)
  • 300.000 visitas: 7 de Dante de 165 (22.7.2019) (2,25 anos desde a marca anterior)
  • 400.000 visitas: 16 de São Paulo de 169 (5.6.2023) (3,83 anos desde a marca anterior)
  • 500.000 visitas: 21 de Aristóteles de 171 (18.3.2025) (1,75 ano desde a marca anterior)

Repetimos aqui o que dissemos quando atingimos a marca de 400.000 visitas (https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2023/06/400-mil-visitas.html):

Este blogue foi criado para apresentar notícias e reflexões baseadas no Positivismo, inspiradas por ele e/ou sobre ele, expondo a positividade e o espírito positivo, o pacifismo e as liberdades públicas e individuais, o relativismo e o altruísmo, contra o absolutismo teológico-metafísico, o autoritarismo e o militarismo.

Neste blogue buscamos expor concepções reais e úteis, para esclarecer, orientar, aconselhar o público leitor; são informações, relatos, dados expostos gratuitamente, para a correta e necessária livre circulação de idéias. O objetivo, em última análise, é colaborar na constituição de um novo poder Espiritual e, com isso, auxiliar na constituição de uma opinião pública renovada conforme os parâmetros indicados (relativa, altruísta, orgânica).

Esse programa – “real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático” – vai contra o espírito de nossa época, que se caracteriza pelo absolutismo, pela crítica, pela visão fragmentária e de detalhe, pelo egoísmo disseminado; assim, o programa da Religião da Humanidade atualmente é de difícil difusão. Mesmo com essa dificuldade, ou mesmo devido a ela, é necessário persistir, tendo certeza de que, em meio às tormentas morais, intelectuais e políticas de nossa época e de nossa sociedade, a positividade triunfará.

Sobre a proteção dos ricos e poderosos ao sacerdócio

No dia 21 de Aristóteles de 171 (18.3.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos conservadores (em particular, iniciando a Primeira Parte - "Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores").

Na parte do sermão começamos a leitura de uma carta filosófica de Augusto Comte a John Stuart Mill, datada de 18 de dezembro de 1845, em que aborda a obrigação moral e social dos patrícios de sustentarem materialmente o sacerdócio. (Inicialmente tínhamos a pretensão de ler toda essa carta; mas como ela é longa, com nove páginas, tivemos que dividir essa leitura entre duas prédicas.)


As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

*   *   *


A proteção patrícia ao sacerdócio

(21 de Aristóteles de 171/18.3.2025) 

1.       Abertura

2.       Exortações iniciais

2.1.    Sejamos altruístas!

2.2.    Façamos orações!

2.3.    Como somos uma igreja, ministramos os sacramentos: quem tiver interesse, entre em contato conosco!

2.4.    Precisamos de sua ajuda; há várias maneiras para isso:

2.4.1. Divulgação, arte, edição de vídeos e livros! Entre em contato conosco!

2.4.2. Façam o Pix da Positividade! (Chave pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

3.       Datas e celebrações:

3.1.    Dia 23 de Aristóteles (20.3): início do outono

4.       Ultrapassamos a marca de 500.000 visitas no blogue Filosofia Social e Positivismo (https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/) em 21 de Aristóteles de 171 – ou seja, hoje!

4.1.    As outras marcas foram atingidas nas seguintes datas:

4.1.1. 400.000 visitas: 16 de São Paulo de 169 (5.6.2023)

4.1.2. 300.000 visitas: 7 de Dante de 165 (22.7.2019)

4.1.3. 200.000 visitas: 27 de Aristóteles de 163 (24.3.2017)

4.1.4. 100.000 visitas: 8 de Dante de 161 (23.7.2015)

4.1.5. Criação em 4 de janeiro de 2007

5.       Leitura comentada do Apelo aos conservadores

5.1.    Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

5.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

5.1.1.1.             O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

5.1.1.2.             Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

5.1.2. A religião estabelece parâmetros morais, intelectuais e práticos para a existência humana e, portanto, orienta a política, estabelece as suas metas, as suas possibilidades e os seus limites

5.2.    Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

5.3.    Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

6.       Sermão: a proteção patrícia ao sacerdócio

6.1.    Em uma carta a John Stuart Mill, do final de 1845, Augusto Comte faz um balanço semiprivado das relações políticas, sociais, filosóficas e morais entre o patriciado e o sacerdócio

6.1.1. Dizemos “balanço semiprivado” porque era uma carta pessoal de nosso mestre a Stuart Mill, que ele (nosso mestre) autorizou a divulgar conforme o destinatário julgasse adequado, sem a tornar totalmente pública

6.2.    A tradução que leremos é de Raimundo Teixeira Mendes, presente em O ano sem par, entre as páginas 567 e 579

6.2.1. Um primeiro volume da correspondência de Augusto Comte a John Stuart Mill foi publicado em 1877, sob o título Lettres d’Auguste Comte à John Stuart Mill – 1841-1846. Com 462 páginas, esse volume contém 45 cartas e quatro anexos. A carta abaixo corresponde à de n. XL desse volume, publicada entre as páginas 374 e 392; foi a partir dessa edição que Teixeira Mendes traduziu o texto abaixo. Já na coletânea da correspondência completa de Augusto Comte, organizada por Paulo Berredo Carneiro e Pierre Arnaud, a carta abaixo está no volume III, dedicado ao período entre abril de 1845 e abril de 1846 (o “ano sem par”), entre as páginas 238 e 248; no conjunto do epistolário comtiano, ela corresponde à missiva CCCLXVI.

6.3.    O que importa nessa carta?

6.3.1. Essa missiva apresenta, como é característico do Positivismo, inúmeros temas e aspectos estreitamente vinculados entre si, ainda que alguns sejam apenas citados enquanto outros sejam longamente desenvolvidos

6.3.2. O tema principal é a apreciação de nosso mestre a respeito do apoio, falho, do patriciado em favor do sacerdócio positivo

6.3.2.1.             O patriciado, como notamos há pouco, são os líderes políticos e industriais, ou seja, são os responsáveis pela gestão do poder e da riqueza

6.3.2.2.             A crítica principal de Augusto Comte é em relação ao patriciado inglês, que habitualmente era mais liberal e mais pródigo em protetorados desse tipo

6.3.2.3.             Mas, de qualquer maneira, a idéia principal aí é que o patriciado tem o dever – moral, pelo menos – de sustentar, de apoiar, o sacerdócio

6.3.3. Augusto Comte sugere aí um tema que foi desenvolvido mais tarde em diversas ocasiões: o patriciado como uma “cavalaria industrial”

6.3.3.1.             A noção de “cavalaria industrial” à primeira vista dá a impressão de que se trata de nostalgia pela Idade Média, mas é muito superior a uma tolice dessas

6.3.3.2.             A cavalaria medieval era constituída por militares em uma sociedade guerreira, violenta e “machista”; esses militares decidiam de vontade própria limitarem sua violência e, em vez de serem prepotentes, atuarem em defesa dos fracos e dos subordinados; além disso, submetiam-se ao protetorado moral das mulheres

6.3.3.3.             Isso não teve efeitos sistêmicos de grande envergadura, mas foi bastante grande para difundir-se e, além disso, produziu exemplos duradouros

6.3.3.4.             A cavalaria industrial, portanto, é a idéia de uma corporação de líderes industriais que promovam o exemplo e a prática do que se chama atualmente de “responsabilidade social” – entendendo que a responsabilidade social não é pelo lucro, mas pelo bem-estar público

6.3.3.5.             A responsabilidade social do patriciado, a ser estimulada e exemplificada pela cavalaria industrial, não impede nem substitui medidas políticas: entretanto, o Positivismo sempre afirmou que tais medidas políticas só podem vir depois das mudanças de sentimentos e de idéias (em caso contrário, as medidas políticas serão autoritárias, superficiais e efêmeras)

6.3.3.5.1.                   De modo geral, as filosofias políticas da nossa época desprezam as mudanças morais (como no caso do marxismo e do liberalismo) ou querem que essas mudanças aconteçam juntamente ou após as mudanças políticas (como o socialismo comum e a democracia); o catolicismo com freqüência deseja apenas as mudanças morais

6.4.    Outros aspectos expostos ou desenvolvidos na carta:

6.4.1. Afirmação dos deveres sociais e morais

6.4.2. Afirmação da necessidade de o patriciado manter materialmente, de maneira direta e indireta, o sacerdócio

6.4.3. Afirmação de que, como a riqueza é produzida sempre socialmente, ela deve necessariamente ter uma destinação social

6.4.4. Caracterização do comunismo e da possibilidade de revolução se e quando os patrícios não cumprem suas responsabilidades sociais

6.4.5. Afirmação da responsabilidade social e da noção de que os detentores do capital não são “donos” do capital, mas seus gestores; a riqueza é uma função, não uma condição

6.4.6. Crítica à divisão absoluta entre o público e o privado

6.4.7. Afirmação do caráter complementar e sucessivo das medidas morais e políticas para regulação social

6.4.8. Forte denúncia da mesquinhez acadêmica

6.4.9. Afirmação do dever – moralmente banal, mas importantíssimo em termos práticos – de o Estado defender seus servidores

6.4.10.   Argumento a favor da estabilidade dos servidores públicos

6.5.    A situação específica que motivou toda essa reflexão foram as sucessivas manobras acadêmicas, políticas e administrativas feitas na Escola Politécnica, entre 1840 e 1852, para impedir que Augusto Comte assumisse o cargo de professor efetivo de lá e, depois, para demiti-lo de suas funções subalternas (repetidor e examinador de admissão)

6.5.1. Essas manobras mantiveram Augusto Comte com salários baixíssimos e, cada vez mais, à sombra da miséria e da fome

6.6.    Passemos, então, à leitura da carta!

7.       Exortações finais

7.1.    Sejamos altruístas!

7.2.    Façamos orações!

7.3.    Como somos uma igreja, ministramos os sacramentos: quem tiver interesse, entre em contato conosco!

7.4.    Precisamos de sua ajuda; há várias maneiras para isso:

7.4.1. Divulgação, arte, edição de vídeos e livros! Entre em contato conosco!

7.4.2. Façam o Pix da Positividade! (Chave pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

8.       Término da prédica

18 março 2025

Monitor Mercantil: Conservadorismo curitibano como reflexo do Brasil

No dia 17 de março de 2025 o jornal carioca Monitor Mercantil publicou um artigo de nossa autoria, intitulado "O conservadorismo curitibano como reflexo do Brasil".


Reproduzimos abaixo o texto.

*   *   *


O conservadorismo curitibano como reflexo do Brasil 

Curitiba é reconhecidamente uma cidade conservadora. Esse conservadorismo sempre conjugou o respeito às tradições com inovações profundas; alguns exemplos disso são (1) o pronto apoio dos paranaenses à proclamação da República, em 1889, (2) o apoio ao regime republicano na Revolução Federalista (1893-1894), (3) a fundação da Universidade do Paraná (atual Universidade Federal do Paraná), em 1912, e, (4) entre os anos 1970 e 1990, as reformas urbanísticas de Jaime Lerner e sua equipe.

Como se sabe, o conservadorismo consiste em uma predileção pelos resultados acumulados historicamente e uma rejeição às inovações, em particular as inovações planejadas. Dessa forma, os conservadores mantêm uma grande distância da noção do progresso e aproximam-se dos reacionários, embora os reacionários rejeitem o progresso, enquanto os conservadores só mantenham reservas a respeito.

O conservadorismo curitibano consiste nessa reserva em relação ao progresso; no século XX isso significou reserva, oposição, rejeição da “esquerda”. É uma questão mais política que filosófica: afinal, em termos filosóficos, os quatro exemplos que demos acima foram defendidos explicitamente como progressos. É claro que perspectivas reacionárias também foram defendidas, como quando Flávio Suplicy de Lacerda afirmou em 1939 que os poloneses tinham invadido a Alemanha e que, portanto, a atuação nazista em relação à Polônia era uma questão de defesa. (Diga-se de passagem, a mesma estrutura de argumentos é mobilizada atualmente em defesa da invasão russa sobre a Ucrânia.)

Todavia, nos últimos dez ou 15 anos o conservadorismo curitibano tem mudado de natureza, deixando a abertura a mudanças progressistas e enveredando cada vez mais por sendas reacionárias, em direção a mudanças regressivas. O primeiro sinal disso é que o projeto de destruição da República brasileira – projeto efetivo, consciente e racional, anunciado até em artigo acadêmico (“Considerações sobre a Operação Mani Pulite” – Revista CEJ, Brasília, v. 8, n. 26, p. 56-62, 2004) – foi pensado, constituído e levado a cabo em seus primeiros anos em Curitiba. Um segundo conjunto de sinais é que a equipe (curitibana) que se reuniu ao redor do autor do artigo acima, incluindo aí o próprio autor do artigo, apoiaram convictamente as ações e/ou integraram o governo de um líder político violento, autoritário, com notórios vínculos com a milícia carioca e cuja preocupação com o enriquecimento e com a família anda a par com explícitas intenções retrógradas. O terceiro exemplo é que por pouco Curitiba não elegeu como Prefeita uma jornalista radicalmente alinhada a esses políticos reacionários – jornalista para quem o transporte público deveria ser cobrado como se fosse um aplicativo, por quilometragem percorrida pelos passageiros, sem se preocupar que o transporte público é direcionado à população trabalhadora e com fundamentais efeitos sociais, econômicos e ambientais. (Na verdade, exatamente devido a esses efeitos, o transporte público deveria ser usado por toda a população – mas isso é outra discussão.)

Há traços menos evidentes ou, pelo menos, menos chamativos desse conservadorismo cada vez mais reacionário em Curitiba. Muitos desses traços têm orientações sociais diversas, mas no final apontam para uma única e mesma direção, que é, precisamente, o reacionarismo. Entre muitos casos possíveis, queremos citar dois exemplos, um que indica exclusão social imediata e outro que degrada o próprio conservadorismo.

Como costuma acontecer nas grandes cidades, o Centro e os bairros nobres recebem vultosos recursos públicos, enquanto bairros periféricos e populares são deixados à míngua ou abandonados. Curitiba é modelar a respeito, em que o desprezo pelo popular tem sido acompanhado pela “gentrificação”, com um recente e brutal aumento do IPTU em bairros populares devido à especulação imobiliária – e, claro, sem que isso se reverta em melhoria da qualidade de vida desses bairros.

Além disso, a principal via que liga o Centro da cidade e a rodoferroviária ao aeroporto Afonso Pena (no município de S. José dos Pinhais) – a av. Comendador Franco, apelidada de “Avenida das Torres” –, passou há cerca de uma década por um intenso processo de renovação, que tornou o seu trânsito mais fluido. Embora a Avenida das Torres seja margeada por bairros habitacionais, com trechos intensamente povoados, ela tem poucas faixas de pedestres, poucos sinaleiros e nenhuma passarela transversal. Esse problema é menor no início da via, onde há uma antiga favela, a Vila das Torres, e a Prefeitura viu-se obrigada a pôr três faixas de pedestres em cerca de dois quilômetros; mas, depois, há faixas apenas a cada quilômetro (ou mais). Dessa forma, é uma via que ficou realmente muito bonita após sua remodelação; mas é uma via para veículos, não para pedestres. Que qualidade de vida isso promove?

Por outro lado, o cemitério municipal de Curitiba – que, em face da laicidade, tem o inadequado nome clericalista de “São Francisco de Paula” – é a área em que o Paraná antigo está enterrado, com belíssimos túmulos, alguns deles enormes monumentos. É claro que também estão enterradas ali muitas famílias que não são da elite, mas simples cidadãos.

Ora, durante a pandemia de covid-19 o cemitério municipal foi arrasado: as placas de metal foram roubadas em série e túmulos foram depredados ou destruídos, sem que, desde então, tenha-se feito nada para corrigir esses problemas. A manutenção individual dos túmulos é problema das famílias, mas a conservação do espaço como um todo é obrigação da Prefeitura de Curitiba, especialmente com furtos e depredação de bens sob responsabilidade municipal, contra uma parte importante da memória pública do estado e da cidade e durante uma longa e agressiva pandemia. Aliás, a omissão – escandalosa – é também do Ministério Público, que nada fez. Mas, ao mesmo tempo, nos últimos dez anos a Prefeitura de Curitiba promoveu inúmeras ações explicitamente de apoio à Igreja Católica, com reforma de templos, parcerias institucionais muito vantajosas para a Igreja etc. O ativo apoio municipal à Igreja Católica ocorre ao mesmo tempo que a omissão a respeito do cemitério (cemitério “São Francisco de Paula”): ao mesmo tempo é o mais ativo clericalismo e o mais chocante desprezo pela memória pública.

Poderíamos dar muitos outros exemplos: a derrubada em série de prédios e casas antigos na região central da cidade, em favor da especulação imobiliária de espigões; a imposição de serviços públicos apenas via internet de celular no Centro de Curitiba etc.

Mas o que vimos já dá o tom do atual conservadorismo curitibano: é cada vez mais um reacionarismo clericalista e antipopular. Lamentavelmente, esse é cada vez mais o retrato do conservadorismo brasileiro – e, cada vez mais, das elites políticas nacionais em geral.

 

Gustavo Biscaia de Lacerda é sociólogo da UFPR e Doutor em Sociologia Política.